Prudência e golpe de Estado são palavras que fazem parte do vocabulário político corriqueiro e estão no centro do debate do livro "Prudência Política - das origens aos golpes de Estado", de autoria do pesquisador Eugênio Mattioli Gonçalves e que está sendo lançado pela Editora da Universidade Federal de São Carlos (EdUFSCar). O prefácio é assinado pela pesquisadora da USP, Marilena Chaui.
A ideia do livro surgiu da busca por entender a relação entre dois polos aparentemente opostos: a virtude clássica da prudência, bastião da moralidade para os antigos, e as teorias modernas da razão de Estado, como a ideia de golpe de Estado. "Sempre me interessei pela temática dos golpes de Estado, que na tradição de estudos da filosofia política se insere diretamente no âmbito das teorias da 'razão de Estado', questão central do pensamento político dos séculos XVI e XVII. A partir de minhas pesquisas sobre o assunto pude notar uma relação direta entre a virtude antiga da prudência e esses novos problemas da filosofia política moderna", afirmou o autor, complementando que a obra é produto direto de seu doutorado em Filosofia, pela USP, que por sua vez é a etapa final de sucessivas pesquisas, desenvolvidas desde meados de 2009.
Para Gonçalves, a prudência se refere à tomada de decisão, ao questionamento sobre a melhor ação possível em determinada situação. Qual a melhor escolha diante de um desafio? Como devemos agir em cada caso? Segundo o autor, tradicionalmente, na história da Filosofia, essas perguntas encontram referência no conceito de prudência. "A discussão sobre a prudência, assim, é a discussão central da ética: qual o melhor agir? Essa questão, por sua vez, pode se referir tanto ao agir em âmbito individual - como às escolhas cotidianas que cada um de nós faz - como também às decisões públicas, políticas, tomadas por governantes e que envolvem o coletivo. É esse o escopo da prudência política", definiu.
Já sobre os golpes de Estado, o livro demonstra como a primeira teoria sobre o tema, publicada em 1639 pelo pensador francês Gabriel Naudé, é produto direto das transformações sofridas pelo conceito de prudência na história da Filosofia, o que nos permite entender melhor a gênese da primeira grande formulação sobre a ideia de golpe de Estado na teoria política moderna.
Dessa forma, a obra se propõe a reconstruir a genealogia do conceito filosófico de prudência, noção fundamental para a história do pensamento ético e político. O livro remonta à origem dessa virtude, na filosofia clássica, mostrando as transformações pela qual passa a discussão sobre a prudência, até seu auge no debate público, ao redor das teorias sobre o Estado moderno. "A publicação é dividida de modo didático, elencando em ordem cronológica as principais referências a esse percurso de nascimento e transformação do conceito de prudência, esmiuçando as principais referências ao assunto na história da filosofia", descreveu o autor.
E continua: "A pesquisa permite observar a grande transformação conceitual sofrida pela ideia de prudência política durante o passar dos séculos, abandonando durante esse percurso seu peso moral e sua preocupação com a justiça, enquanto passa a ganhar um caráter mais instrumental, de ferramenta política na luta pela preservação do poder".
O livro pode ser adquirido pelo site da EdUFSCar, onde podem ser encontradas mais informações.