Para marcar o início das atividades do Instituto de Estudos Avançados e Estratégicos (IEAE) da UFSCar, foi realizada a conferência "A Ciência que queremos para o Brasil no mundo". Além dos convidados, também no público que acompanhou o evento estavam figuras centrais no cenário da Ciência e Tecnologia (C&T) brasileiras, como Yvonne Mascarenhas, Glaucius Oliva, Paulo Cruvinel e Isaac Roitman, dentre muitas outras. Também houve participação expressiva da comunidade universitária como um todo, de integrantes da equipe e do conselho do IEAE e gestores atuais e passados da UFSCar.
Nas suas boas-vindas, a Vice-Reitora e, naquele momento, Reitora em exercício da UFSCar, Maria de Jesus Dutra dos Reis, destacou a presença de características que marcam a Universidade desde a sua fundação na concepção do IEAE - como a inovação; o compromisso com a interdisciplinaridade e a pluralidade para a compreensão e resolução de problemas complexos; e a posição epistemológica e política que relaciona qualidade acadêmica com compromisso social. Sobretudo, a dirigente valorizou a dimensão estratégica do Instituto. "O IEAE nasce como fundamental não apenas para reagir e para aglutinar o que já foi construído, mas também para induzir, inovar, nutrir ideias novas a partir de demandas sociais e tecnológicas", afirmou.
Em seguida, Adilson Jesus Aparecido de Oliveira, docente do Departamento de Física, resgatou a história do Instituto. Vice-Reitor na gestão 2012-2016 da UFSCar, presidida por Targino de Araújo Filho, Oliveira foi responsável por conduzir os trabalhos de elaboração da proposta para o IEAE à época. Ele registrou que, apesar de estar pronto para iniciar suas atividades em 2016, com regimento e estatuto aprovados, o Instituto não foi priorizado pela gestão 2016-2020, sendo então recuperado como compromisso pela atual administração da Universidade. "Como candidato a Reitor e, depois, Reitor eleito da UFSCar, o IEAE e, também, a criação do Instituto da Cultura Científica, foram retomados como prioridades e, apesar de eu não ter podido exercer o cargo ao não ser nomeado pela Presidência da República, a nossa equipe manteve o plano e podemos agora colocar o que foi pensado em prática", afirmou. Retornando ao momento de concepção da proposta, Oliveira fez questão de citar como inspirações os professores Sérgio Mascarenhas e William Saad Hossne, ambos já falecidos.
Paulo César de Camargo, que também participou do processo de concepção do IEAE e é o seu primeiro Diretor, destacou o evento como uma oportunidade privilegiada, um "momento de referência para planejarmos o futuro, buscando identificar e associar o melhor conhecimento disponível". "Este é um desafio bem acima da possibilidade de um único ser humano, é um desafio para esta coletividade tão rica e pouco reconhecida hoje em tantos ambientes", registrou.
Após essas falas iniciais, Helena Nader, docente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e Sérgio Rezende, docente da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), proferiram suas conferências.
Ministro de Ciência e Tecnologia de 2005 a 2010, Rezende falou sobre "Educação e Ciência para reconstruir o Brasil". Partindo de uma associação entre os países mais ricos (segundo o PIB) e aqueles com maior número de publicações - as mesmas oito nações -, Rezende afirmou que a Ciência é o motor da prosperidade, capaz de levar um país da pobreza ao desenvolvimento. "O fato é que Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação são fatores essenciais para o desenvolvimento econômico, o aumento da riqueza e a soberania das nações. Nenhuma nação consegue ser soberana, isto é, sem ficar dependendo dos conselhos de outras, se não tiver Educação, Ciência e Tecnologia", formulou, usando a China como exemplo para detalhar esta afirmação. A partir deste contexto, Rezende abordou marcos históricos da C&T no Brasil, comentando avanços e retrocessos no sistema de federal de financiamento e delineando uma situação muito complicada nos últimos anos, que caracterizou falando em "tempos sombrios" e "vergonha". O ex-Ministro concluiu sua fala apresentando desafios e, também, propostas para remontagem do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação e recomposição e ampliação do fomento para CT&I.
Presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência de 2011 a 2017, Nader apresentou fala intitulada "Ciência e soberania em um mundo globalizado". Inicialmente, trouxe reflexões sobre os conceitos de Soberania, Cidadania, Desenvolvimento e Conhecimento, para caracterizar a Sociedade do Conhecimento e, em seguida, também destacar indicadores de comparação entre Brasil e outros países, "para aqueles que não entenderam que educação é fundamental na Sociedade do Conhecimento e que Ciência é o que vai levar a gente a atingir cada vez mais a chamada prosperidade econômica". Também chegando à questão do financiamento, Helena Nader mostrou como o Brasil vem diminuindo os investimentos em C&T, enquanto a tendência mundial tem sido na direção contrária e, chegando à Emenda Constitucional 95 e ao teto de gastos justificado pela necessidade de confiança do mercado, questionou: "Qual mercado? O especulativo ou o produtivo? O de bens primários em estado bruto ou o de produtos com alta tecnologia? O baseado em mão de obra desqualificada e de baixos salários ou em profissionais qualificados e bem remunerados?". Ao responder, a cientista encerrou com o seu já clássico bordão: "Ciência não é gasto, é investimento".
A gravação da conferência inaugural pode ser conferida no canal UFSCar Oficial através deste link. Mais informações sobre o Instituto podem ser acompanhadas no site do IEAE.