A UFSCar aprovou a outorga do título de Doutor Honoris Causa a Raduan Nassar, por sua trajetória na Literatura e, também, considerando sua participação na história da Universidade, a partir da doação, em 2012, da fazenda Lagoa do Sino, onde hoje está o Campus Lagoa do Sino da UFSCar. A deliberação foi um momento muito especial da primeira sessão da 247ª Reunião Ordinária do Conselho Universitário (ConsUni), marcado por emoção e qualificado como histórico pelos conselheiros.
A Reitora Ana Beatriz de Oliveira destacou sua honra em presidir a reunião do ConsUni responsável pelo reconhecimento e homenagem à trajetória do escritor e a seu compromisso com a educação pública e a transformação do País. A Presidente do ConsUni registrou também lamentar que a proposta, elaborada e apresentada pelo Centro de Educação e Ciências Humanas (CECH) em 2017, não tenha sido levada ao Conselho à época, adiando a concessão do título. Ana Cristina Juvenal da Cruz, hoje Diretora e então Vice-Diretora do CECH, apresentou na reunião o histórico do processo e também externou a insatisfação do Centro diante da demora.
"A aprovação em 2021 é crucial, diante do momento em que a história brasileira se encontra, para que façamos esse gesto político de outorgar a titulação ao Raduan pelo que ele representa não somente como escritor, mas também como intelectual engajado politicamente. A defesa que fazemos para que o Conselho aprove o título se dá pela trajetória de Raduan, pelo que ele nos ensinou e ensina, e também pelo tempo de hoje, que exige de nós que estejamos à altura do que precisa ser feito no atual contexto da sociedade brasileira. Para que aprendamos e nos inspiremos em pessoas como ele para nos opormos ao autoritarismo e buscarmos construir uma outra sociedade com solidariedade e sem preconceitos", defendeu a Diretora.
O documento que traça a trajetória de Raduan Nassar e esteve em apreciação no ConsUni foi elaborado por comissão formada pelas docentes do Departamento de Letras Maria Sílvia Cintra Martins e Tânia Pellegrini (aposentada) e pelo docente do Departamento de Filosofia Wolfgang Leo Maar (também aposentado).
Em sua fala, Maria Sílvia Cintra Martins, estudiosa de Raduan Nassar há anos, agradeceu pela retomada da apreciação do título ao destacar que fará parte da história da UFSCar. Após explicar os critérios para a concessão da outorga - que estipulam que a pessoa homenageada precisa ser uma personalidade eminente que tenha contribuído para o progresso da Universidade, da região ou do País, ou que tenha se distinguido pela atuação em favor das Ciências, das Letras, das Artes ou da Cultura em geral -, Martins destacou a excepcionalidade do homenageado.
"Nassar preenche todos os requisitos para receber a honraria. Destaco sua contribuição para o progresso da UFSCar, por meio da doação de uma propriedade para o Campus Lagoa do Sino; sua distinção como intelectual combativo no sentido da construção de uma sociedade mais humana e democrática e por sua qualidade excepcional como escritor, atuando em favor das Letras e da Cultura", registrou.
Tânia Pellegrini evidenciou a contribuição de Nassar enquanto escritor. "Raduan é um dos poucos intelectuais que considero verdadeiramente humanista, revolucionário e militante. Ele escreveu poucos livros, mas sua obra é considerada um clássico, uma vez que nos permite, sempre que lida, encontrar ressonâncias com o presente por falar da história do Brasil, do seu povo e do conflito entre as diferentes populações brasileiras, sempre centrado no núcleo familiar", pontuou.
Wolfgang Leo Maar, por sua vez, destacou o elevado espírito público de Raduan Nassar ao doar sua propriedade para uma universidade pública. "Esse é um gesto raro na nossa sociedade, marcada pela proeminência do privado e pela enorme desigualdade de riqueza. O espírito público do escritor Raduan Nassar não se esgota nesse gesto, se expressa também pelo combativo engajamento público e político do intelectual crítico, que jamais deixou de se manifestar diante de injustiças e desigualdades da situação que vivemos", afirmou.
Messias Barbosa, assessor de Raduan, falou sobre a emoção em participar do momento, ao relembrar, diante das falas dos conselheiros, a implementação do Campus Lagoa do Sino. Ele ponderou que a homenagem a Raduan também é uma homenagem aos que estiveram envolvidos no processo, e que não poderia ter acontecido em outro momento. "Tinha de ser com uma gestão comprometida com a democracia, a educação pública, diversidade e cidadania. Estamos diante de um registro histórico muito bonito, pois é um resgate da história da UFSCar e, também, da do Raduan. Tenho certeza que ele está muito feliz", acrescentou.
Campus Lagoa do SinoA fazenda Lagoa do Sino, com 640 hectares, está situada geograficamente no município de Buri, sendo o núcleo urbano mais próximo o do município de Campina do Monte Alegre, a apenas seis quilômetros. Nela, o Campus Lagoa do Sino da UFSCar foi instalado e inaugurado oficialmente em 26 de junho de 2014.
No Campus, hoje, são oferecidos os cursos de graduação em Engenharia Agronômica, com foco em Agricultura Familiar; Engenharia Ambiental, com foco em Sustentabilidade, e Engenharia de Alimentos, focado em Segurança Alimentar.
A área doada inclui instalações como sede administrativa, salas de aulas, biblioteca, laboratórios e o restaurante universitário, abrigadas em partes das casas que já existiam na fazenda, junto a novas construções.
A escritura da doação da Fazenda Lagoa do Sino para a UFSCar foi assinada em 3 de fevereiro de 2011. O Campus mantém a produção agrícola que já existia na fazenda, principalmente pelos cursos oferecidos serem voltados para a agricultura, sobretudo a familiar, o que corresponde a 70% das propriedades rurais da região.
Raduan NassarRaduan Nassar (Pindorama, 27 de novembro de 1935) é um escritor brasileiro galardoado com o Prêmio Camões em 2016.
Na adolescência foi para São Paulo com a família, onde cursou Letras, Direito e Filosofia na Universidade de São Paulo (USP). Estreou na Literatura no ano de 1975, com o romance Lavoura Arcaica. Em 1978, foi publicada a novela Um Copo de Cólera, escrita em 1970. Em 1997, foi publicada a obra Menina a caminho, reunindo seus contos dos anos 1960 e 1970.
Com apenas três livros publicados, é considerado pela crítica como um grande escritor e comparado a nomes consagrados da Literatura Brasileira, como Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Deixou de escrever em 1984 e passou a dedicar-se à atividade rural na Fazenda Lagoa do Sino. Atualmente mora na cidade de São Paulo.