O lucro é a base da exploração da classe dominante sobre a dominada. Nesse sistema, aqueles que não têm meios de produção vendem sua força de trabalho aos que têm e na maior parte das vezes a remuneração fica aquém do merecido. Ao longo da história, essa dominação afetou todos os setores da sociedade, mas especialmente a educação pública.
Um reflexo atual dessa realidade é o fechamento de escolas rurais por todo o Brasil – das 100 mil existentes em 2002, 17 mil foram fechadas –, com implicações severas na vida dos jovens, que ficam obrigados a percorrerem longas distâncias se quiserem estudar na cidade. De 2002 para cá, o número de matrículas reduziu de 7,9 para 6,6 milhões de educandos.
Para a docente da pós-graduação em História da Universidade Federal Fluminense (UFF), Virgínia Fontes, é uma perversão da democracia deixar de oferecer um sistema educativo capaz de integrar a pluralidade da vida social. Ela acredita que voltar o ensino aos trabalhadores rurais deveria ser uma lição para o conjunto da educação pública no Brasil. “A educação do campo deve levar em consideração as necessidades dos trabalhadores, a socialização do conhecimento e da cultura. É preciso uma escola que forma seres humanos para os desafios da vida contemporânea”, defende.
A especialista lembra que durante séculos foi necessária muita luta para a existência de escolas públicas no Brasil. “Ao menos em parte, atingiu-se no Brasil uma escolarização de maior escala, apesar de sua precariedade. Porém, até os dias de hoje ainda é necessária mobilização em prol da educação, como as que ocorreram contra os cortes realizadas no Ensino Médio recentemente”, lembra Virginia.
A docente da UFF sustenta que muitas mudanças precisam ocorrer quanto à educação pública, que não deve ser encarada como uma gestão empresarial-burocrática da rede de ensino. Para a pesquisadora, trata-se de um compromisso com a vida das crianças, com a sua capacidade de compreender o mundo no qual vivem e as contradições que atravessam, para que elas estejam preparadas para enfrentá-las, promovendo assim as transformações que são necessárias e urgentes. “Os alunos precisam ser educados como seres integrais, plenos, que têm direito ao acesso ao conhecimento e à cultura produzidas pela humanidade”, defende a professora.
Para debater e apresentar propostas para este problema, e outros que envolvem a educação pública no campo, pesquisadores se reúnem entre os dias 26 e 28 de julho de 2017 na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) – campus São Carlos, SP, a 230 quilômetros da Capital – para realizar o I Seminário Internacional e o IV Seminário Nacional de Estudos e Pesquisas sobre Educação no Campo (SEMGEPEC). Serão discutidas as políticas educacionais para o meio rural, sob o panorama geral da educação no campo no Brasil e na América Latina, com destaque para Cuba e Colômbia. A professora Virgínia Fontes já confirmou presença e ministrará uma palestra sobre a dominação de classes a educação no campo.
A estudiosa classifica os seminários como um momento privilegiado. “Tornamos públicas