Entre todos os atores sociais – mulheres, negros, jovens – a criança é o que menos tem direito à palavra. Ela não é ouvida ou tem a importância de sua fala diminuída. Para a professora Anete Abramowicz, do Departamento de Teorias e Práticas Pedagógicas (DTPP) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), há um trabalho essencial a ser feito em relação a esse ator social. “Precisamos formar profissionais que tenham capacidade teórica e metodológica para ouvir as crianças e fazer com que essas falas possam ecoar na sociedade”, defende.
Uma área da ciência chamada Sociologia da Infância busca desconstruir essa cultura milenar de que a criança não deve ser ouvida, por meio da mudança de pensamento, enxergando os pequenos cidadãos também como protagonistas. Essa área do conhecimento, que surgiu em 1920 na Europa e nos Estados Unidos, passou a se configurar como campo científico a partir da década de 80. No Brasil, a Sociologia da Infância, que apareceu ramificada em várias áreas, como na educação e na própria sociologia, se consolidou no país a partir da UFSCar.
“Na UFSCar, temos um curso de Ciências Sociais e um Departamento de Educação com excelentes professores e como a Sociologia da Infância é exatamente a fronteira entre as ciências humanas e a educação, houve todas as condições favoráveis para mobilizar os especialistas aglomerando disciplinas como a Antropologia da Criança, a Geografia, a Sociologia e Filosofia da Infância”, explica Anete.
A especialista conta que a união de diversos olhares científicos foi fundamental. “Conseguimos produzir um campo de conhecimento inédito, com um grande aumento na pesquisa brasileira sobre esse tipo de análise e estamos começando a dizer quem são as crianças brasileiras e do mundo”, enfatiza. “É um conhecimento que parece simples, mas não é. Sabe-se muito pouco sobre as crianças do ponto de vista delas”, relata. É preciso, segundo Anete, que a sociedade reconheça que a criança interfere socialmente.
Visando capacitar profissionais para atuar nessa área, está aberto, até o dia 10 de abril, o período de inscrições para a segunda turma da única pós-graduação brasileira que subsidia a formação inicial, continuada e específica de profissionais da Sociologia, da Educação e da Saúde. Trata-se do Curso de Especialização em Sociologia da Infância oferecido pela UFSCar.
O curso analisa as novas crianças da era digital, que são totalmente diferentes das crianças do século 19, por exemplo. Ao mesmo tempo em que se trabalha com temas antigos, como mortalidade e trabalho infantil, se agrega temas contemporâneos, como as tecnologias dos computadores e a inteligência digital desenvolvida pelos pequenos da nova geração. A criança indígena também é abordada, assim como os pequenos que vivem no campo ou dentro de um quarto nos grandes centros.
Anete, coordenadora da especialização, avalia os resultados alcançados na primeira turma. “A primeira turma, como era inédito no Brasil, teve resultados surpreendentes. Vamos formar 50 especialistas em Sociologia da Infância com grande sucesso”, comemora.
Para cursar a especialização é necessário ter uma gra