Muito se discute sobre a solução para problemas como corrupção, fanatismo religioso, violência e preconceito. São comportamentos destrutivos presentes de forma tão comum no dia a dia do brasileiro, que muitas vezes são considerados normais, apesar de não serem. Uma das soluções para todas estas questões pode estar na psicanálise.
Para o psicanalista José Carlos Calich, professor visitante da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), esse tipo de comportamento rompe estruturas que são essenciais para o homem, como a consideração pelo próximo e o desejo de que a humanidade continue. “Será causado um grande problema se essa vontade individualista aumentar. Isso não vai dar certo”, previu o professor no último sábado (10) no 4º Psicanálise em Foco, evento que aconteceu no Campus São Carlos da UFSCar.
Calich explica que a solução para estes problemas não está apenas nos estudos sociais. Usando como exemplo o aumento dos casos de obesidade, um fenômeno universal, ele esclarece que é ingênua a ideia de que a causa seja o consumo exagerado de alimentos calóricos. “Tem mais explicações do que apenas isso”, ressalta. Segundo Calich, o México, que é um país em desenvolvimento, tem uma grande população obesa de baixa renda. “Isso prova que a questão da obesidade não está apenas ligada ao consumo de alimentos, assim como a violência não está ligada apenas a pobreza”.
Os estudos sobre o cérebro avançaram muito nos últimos anos e o caminho para a solução destes comportamentos destrutivos pode ocorrer por meio de análises pessoais. De acordo com o especialista, há diversas teorias na psicanálise que podem ser usadas para melhorar esses comportamentos, mas a medicina exige tempo e uma alta frequência de sessões com o terapeuta. Quanto mais tempo de consultório maior é o período de tratamento. “Nós devemos respeitar o tempo psíquico para o tratamento, não o tempo tecnológico, imediatista. A objetividade do mundo atual mais nos confunde do que nos torna humanos”, afirma o psicanalista.
Para o docente, a psicanálise tem um poder multiplicador, no qual os efeitos da mudança vão se propagando, assim como o conhecimento. Ele afirma ainda que os psicanalistas deveriam participar de uma forma mais ativa das questões sociais e políticas, da construção e do desenvolvimento, pois a psicanálise tem uma outra maneira de entender as motivações do ser humano. “Promover uma educação sem ter uma visão psicanalítica é não usar tudo o que se tem para ajudar”, concluí o docente.